A Floresta Nacional do Tapajós, conhecida como Flona do Tapajós,  é um dos principais passeios para quem visita Alter do Chão, um vilarejo próximo à Santarém/PA conhecido como “Caribe Amazônico”. É a oportunidade de ter contato direto com a natureza, de conhecer diversas plantas e animais além de observar como a floresta pode ser explorada de forma sustentável.

Fizemos um tour de um dia (day trip) à Comunidade de Jamaraquá, que fica às margens do Rio Tapajós e, a partir de lá, fizemos uma trilha pela Floresta Nacional. Neste artigo, contamos como foi a nossa experiência.


Sobre Alter do Chão, leia também:

Unidade de Conservação

Mapa da Floresta Nacional do Tapajós, Pará
Mapa da Floresta Nacional do Tapajós, Pará

A Floresta Nacional do Tapajós é uma unidade de conservação federal com 527 mil hectares de área, situada nos municípios de Aveiro, Belterra, Rurópolis e Placas, no estado do Pará.

Administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, a Flona do Tapajós é destaque pelo uso sustentável dos recursos naturais. No local, moram em torno de 1.050 famílias em 23 comunidades e 3 aldeias indígenas, que vivem do turismo e da exploração sustentável da floresta.

Segundo o ICMBio, dentre as atividade realizadas pelas comunidades, encontram-se:

  • a extração do látex,
  • a extração de óleos de andiroba e copaíba,
  • a produção do couro ecológico a partir do látex,
  • a produção de biojóias,
  • a produção de móveis artesanais,
  • a comercialização de frutas in natura (açaí),
  • a produção de polpas e licores,
  • a produção de farinha e mel,
  • a criação de peixes, e
  • o turismo.

A propósito, o óleo de andiroba, com propriedades anti-inflamatórias, me ajudou bastante nesse passeio. Logo que entrei no barco, tive um desconforto muscular nas costas, o que iria inviabilizar a realização da trilha pela floresta. A dor era muito intensa. Uma senhora da comunidade, muito gentil, forneceu um pouco de óleo e a minha esposa fez uma massagem nas minhas costas, proporcionando um rápido alívio. Ao final do passeio, fiz questão de comprar uma garrafinha para levar.  

A Flona não é só floresta! Essa unidade de conservação dispõe de uma grande variedade de paisagens naturais, tais como, 160 km de praias de rio, lagos, igarapés, morros, planaltos, campos e açaizais (fonte: ICMBio). Infelizmente, conhecemos apenas uma pequena parte dela.

Itinerário do Passeio

1. De Barco até a Comunidade de Jamaraquá

Centro de Atendimento ao Turista, Alter do Chão, Pará
Centro de Atendimento ao Turista, Alter do Chão

O passeio começa às 8h30 com o embarque no Centro de Atendimento ao Turista (CAT), uma estrutura de madeira às margens do Rio Tapajós, em Alter do Chão. O trajeto até a Comunidade do Jamaraquá é feito por esse rio e leva em torno de 50 minutos.

Durante o “verão amazônico”, época de seca (entre setembro a dezembro), os barcos de passeio não conseguem chegar até as proximidades da praça principal de Alter do Chão e da Ilha do Amor. Por isso, o ponto de embarque de todos os passeios é o Centro de Atendimento ao Turista.

Desembarcamos numa praia e caminhamos em torno de 5 minutos até chegar à sede da Comunidade. É hora de passar um repelente, deixar no restaurante as coisas que não iríamos usar na trilha e fazer o registro de entrada na sede da associação de moradores.

A propósito, essa praia onde desembarcamos não é adequada para banho, pois, além de não ser bonita, seu solo é feito um barro mole, difícil  de caminhar.

Comunidade de Jamaraquá, Floresta Nacional do Tapajós, Pará
Comunidade de Jamaraquá, Floresta Nacional do Tapajós (Flona)

Interessante notar que, na Comunidade de Jamaraquá, tudo é limpo e arrumado. As construções são simples e feitas de madeira e palha. As ruas são de terra batida. Não vimos lixo espalhado como encontramos nas nossas grandes cidades; apenas as folhas secas das árvores.

A comunidade abrange, dentre outras instalações, igreja, escola de ensino fundamental, campo de futebol, lojas de artesanato,  pousadas, restaurante e as casas dos moradores.

2. Trilha do Piquiá

Trilha do Piquiá, Floresta Nacional do Tapajós (Flona)
Trilha do Piquiá, Floresta Nacional do Tapajós (Flona)

Nosso guia na Flona era o “Chito” (apelido), um rapaz de 22 anos, que vivia na comunidade. Ele nos apresentou o roteiro da caminhada pela Trilha do Piquiá, com 9,1 km de extensão. O percurso dura de 4 a 5 horas.

  • O preço do guia é de R$ 150 por grupo de até 5 pessoas, ou seja, pagamos R$ 30 por pessoa.

Iniciamos o percurso por um trecho de floresta secundária. Esse trecho é basicamente plano e bem tranquilo de caminhar. Em seguida, começamos a subir por um trecho de floresta primária, o que exige um pouquinho mais de preparo físico, mas nem tanto. Visitamos um mirante e depois descemos por 1 km até o Igarapé de Jamaraquá. Por fim, subimos um trecho e retornamos à trilha de floresta secundária.

A propósito, floresta primária é a mata virgem, ou seja, aquela que sofreu pouca intervenção do ser humano. A floresta secundária é aquela que sofreu desmatamento ou forte intervenção humana, mas conseguiu se regenerar.

Ao longo do trajeto, nosso guia vai apresentando diversas plantas da floresta e seus usos pelos locais. É muita informação! Apresentamos algumas delas a seguir.

2.1. Palha do Curuá

Numa das primeiras paradas, o guia mostra como é possível preparar uma palha do curuá, que faz parte de telhados de casas e quiosques na região. É muito rápido. Confira o vídeo a seguir.

 

Curuá-pixuna é o nome popular, de origem indígena, de uma palmeira da família das Arecáceas, também chamada de curuá-preto ou palha-preta (fonte: Dicionário Informal).

2.2. Cipós

Cipó Rede de Macaco, Trilha do Piquiá, Floresta Nacional do Tapajós (Flona)
Cipó Rede de Macaco

Os cipós são plantas terrestres que crescem apoiando-se e envolvendo as árvores. Em nosso passeio conhecemos 3 tipos deles: o cipó escada de jabuti, o cipó rede de macaco e o cipó-alho.

Os cipós, entretanto, estão infestando as florestas e podem ser prejudiciais. Eles limitam o crescimento das plantas, podendo cobrir a copa das árvores, as deixando sem luz.

2.3. Formigas

Formiga Tucandeira, Trilha do Piquiá, Floresta Nacional do Tapajós (Flona)
Formiga Tucandeira

A Amazônia abriga mais de mil espécies de formigas. No nosso tour, conhecemos um pouco mais sobre a formiga de cheiro e a formiga tucandeira.

Sobre a formiga de cheiro, nosso guia nos disse que ela era esmagada e utilizada como perfume pelas índias. Realmente, ao esmagá-las, elas tem um cheiro cítrico muito gostoso.

A formiga tucandeira, por sua vez, chega a medir 2,5 cm de comprimento, é usada no ritual de iniciação masculina na tribo Sateré-Mawé. Os meninos de 8 a 9 anos vestem luvas cheias de formigas e devem aguentar por mais de 10 minutos. O ritual continua até a idade de 14 anos quando o jovem aprende a suportar a dor sem dar sinal de sofrimento. Para os Sateré-Mawé, a ferroada da formiga tucandeira funciona como uma espécie de vacina. (fonte: www.amazonia.org.br).

2.4. Bromélias

Bromélia, Trilha do Piquiá, Flona
Bromélia, Trilha do Piquiá, Flona

As bromélias já são flores bastante conhecidas por nós, mas, é muito interessante vê-las em seu habitat natural. São mais de 60 espécies diferentes que podem ser encontradas nas florestas tropicais. Infelizmente as bromélias só florescem uma vez, mas, depois da floração, surgem vários brotos nas laterais que perpetuam o encantamento.

2.5. Piquiá

Piquiá, Floresta Nacional do Tapajós (flona)
Piquiá, Floresta Nacional do Tapajós

O piquiazeiro é a árvore que dá o nome à trilha. Sua madeira é utilizada na construção civil e náutica por ser bastante resistente. Seu fruto, o Piquiá, parece ter propriedades antimicrobianas, sendo utilizado como fitoterápico. A polpa é comestível depois de cozida e da sua semente é possível extrair um óleo.

2.6. Samaúma

Samaúma, Trilha do Piquiá, Floresta Nacional do Tapajós
Samaúma, Trilha do Piquiá

A Samaúma é a rainha da floresta amazônica e é considerada sagrada por muitos. É uma árvore majestosa, com tronco enorme e por isso, uma das principais atrações do passeio. São necessárias umas 20 pessoas para abraçar o seu tronco. Segundo os locais, ela teria mais de 300 anos de idade.

Os indígenas a consideram a mãe de todas de todas as árvores, pois possui raízes grossas que conseguem captar água das profundidades para si e outras espécies. Sua casca é utilizada como chá diurético, sua semente é rica em uma fibra semelhante ao algodão e, por isso, usado em enchimento de almofadas.

É muito emocionante estar tão pertinho dela!  Eu não poderia deixar de ressaltar que a Samaúma é a morada do Curupira, figura folclórica brasileira, protetor da floresta.

Fizemos uma longa parada por lá. É onde os diversos grupos de visitantes se encontram. Ao redor, há vários bancos para quem quer descansar.

2.7. “Coquinho”

"Coquinho", Trilha do Piquiá, Floresta Nacional do Tapajós, Flona
“Coquinho” embaixo de uma palmeira

No trajeto, o guia abriu para nós um “coquinho” (não sei o nome correto da fruta), que ficava debaixo de uma palmeira. Era do tamanho de uma bola de tênis de mesa. No centro, havia uma polpa semelhante à do coco normal. O sabor também era semelhante, mas um pouco mais leve e com um “amargo” no final.

Coquinho, Trilha do Piquiá, Floresta Nacional do Tapajós
Coquinho Aberto: sabor de coco, mas com leve amargo no final

2.8. Cacau Selvagem

Cacau Selvagem, Trilha do Piquiá, Floresta Nacional do Tapajós
Cacau Selvagem na Trilha do Piquiá

O cacau selvagem, no seu aspecto externo, lembra um mamão. É alongado e amarelado. Em razão disso, também é chamado de mamorana.

2.9. Copaíba

Extração do Óleo da Copaíba, Trilha do Piquiá, Floresta Nacional do Tapajós, Flona
Extração do Óleo da Copaíba

Da Copaíba, extrai-se um óleo que, supostamente, possui

“uma forte ação cicatrizante, antisséptica e bactericida, assim como apresenta propriedades que diluem e favorecem a expulsão da expectoração, diuréticas, laxativas, estimulantes e emolientes que suavizam e amaciam a pele” (fonte: tuasaude.com)

3. Mirante

Mirante, Trilha do Piquiá, Floresta Nacional do Tapajós, Flona
Vista do Mirante: ao fundo, o Rio Tapajós.

No meio da Trilha do Piquiá, já numa parte alta da floresta primária, há uma parada num mirante, onde se pode ver um bom trecho da floresta e, ao fundo, o Rio Tapajós. No local, há também um “barracão”, coberto com palhas, onde alguns aventureiros acabam dormindo à noite.

4. Igarapé

Igarapé de Jamaraquá, Floresta Nacional do Tapajós, Flona
Igarapé de Jamaraquá: que tal dar um mergulho?

Saindo do Mirante, descemos em torno de 2 km até chegar ao Igarapé de Jamaraquá. Deve-se ter bastante cuidado na descida, uma vez que há muitos trechos onde se pode escorregar. Foram feitos alguns degraus na trilha e colocadas algumas cordas que funcionam como corrimãos.

O Igarapé é maravilhoso e vai serpenteando a floresta. Suas águas cristalinas e geladinhas são um convite para o mergulho, especialmente, após uma caminhada de mais de 5 km pela floresta quente e úmida. Foi montado um deck de madeira com dois pontos de entrada.

Ficamos no Igarapé por 40 minutos e depois subimos para retornar à trilha e voltar à sede da comunidade. Essa parte final da trilha é bem mais tranquila e vai se tornando mais larga à medida que retornamos.

5. Almoço

Almoço, Restaurante Dona Conceição, Comunidade de Jamaraquá, Flona
Almoço no restaurante D. Conceição, Comunidade de Jamaraquá

Depois de 5 horas de caminhada, paramos para almoçar no restaurante da Dona Conceição. Tinha feijão, arroz, salada, farinha e os peixes Pirarucu e Tambaqui. Eu estava com muita fome e o feijão e o tambaqui estavam deliciosos!

O preço do almoço é de R$ 35,00 por pessoa. A cerveja custava R$ 5,00 a lata.

6. Loja de Artesanato

Loja de Artesanato, Comunidade de Jamaraquá, Floresta Nacional do Tapajós
Loja de Artesanato, Comunidade de Jamaraquá

Antes de retornarmos ao nosso barco, fizemos uma parada na loja de artesanato. Por lá, você encontra o produto da exploração sustentável da floresta. São colares, chaveiros, porta-copos, carteiras e os óleos extraídos das plantas. Como o óleo de andiroba salvou o meu passeio, aproveitei para levar um vidrinho.

7. Ponta do Muretá

Ponta do Muretá, Santarém
Ponta do Muretá, Santarém

Antes de regressar para o hotel, fizemos uma parada na Ponta do Muretá para apreciar o pôr do sol. Só que o tempo estava nublado. A Ponta do Muretá fica a uns 4 km de Alter do Chão.

Avaliação geral do passeio

Fazer a Trilha do Piquiá é uma oportunidade de fazer um passeio diferente daqueles mais comuns em Alter do Chão. Na trilha, você irá contemplar a floresta. Nos demais passeios, vai aproveitar as praias de rio.

De fato, é uma oportunidade de conhecer de perto como a floresta pode ser explorada de forma sustentável e como a comunidade se relaciona com a natureza.

A trilha é moderada, não sendo recomendável para idosos ou pessoas com dificuldade de locomoção. Entretanto, você não precisa ser nenhum atleta para percorrê-la. Há várias paradas no percurso.

Numa destas paradas, você poderá se refrescar nas águas deliciosas do Igarapé e retornará renovado para continuar o trajeto e fazer um delicioso almoço no restaurante da Dona Conceição.

O atendimento na comunidade foi muito bom. Fomos muito bem recebidos. Tudo isso só reforça a minha convicção que a visita à Flona do Tapajós é um passeio imperdível para quem vai a Alter do Chão.

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6 Comments

  • Renata
    Posted 27/07/2021 at 18:58 0Likes

    Boa noite, qual o valor do barco de Alter para a FLONA? Obrigada

  • Gisele Sant'Anna de Lima
    Posted 02/10/2021 at 20:11 0Likes

    Adorei suas dicas. Obrigada. Estou indo de 23 a 30 de outubro 21

    • Luciana Mardegan
      Posted 02/10/2021 at 20:16 0Likes

      Que bom Gisele que as dicas ajudaram!!! Depois volta aqui pra contar como foi sua experiência! Divirta-se muito! Boa viagem!!!

  • Nuria
    Posted 18/06/2022 at 5:34 0Likes

    Bom dia! Poderia partilhar por favor como conseguiu o contato com o guia, por favor? Sabe se é possível ficar a durmir na floresta mesmo? Eu ficaria muito agradecida se voçê escreve-me ao email. Eu adorei os seus post sobre Alter do Chao, eu vou com a minha parelha em agosto.

    Obrigada!!

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